No dia 29/07 comemoramos em família dois aniversários: do meu avô Juca e da avó do meu marido, Maria Del Carmen. Perto do Dia dos Avós (26/07), esta data duplamente especial ligada aos ancestrais acaba me fazendo refletir sobre a vida dos idosos e nossa capacidade de nos ajustar à presença deles em nosso cotidiano de forma saudável.
Descendente de orientais por um lado e de ocidentais de outro, desde cedo tive a chance de notar como a cultura de cada povo modifica a forma como se relacionam com os mais jovens e os mais velhos em família, no seio do lar, me preparando para quando eu for a filha a cuidar dos mais velhos e a mãe que necessita de companhia dos mais jovens. Ser a neta também me ajudou muito e tive a sorte de conviver com três gerações idosas em minha família: avó, bisavó e triavó (a “tatara”, como eu a chamava).
Minha experiência me mostrou que o que podemos fazer de mais significativo para garantir a longevidade e a felicidade dos mais velhos é a mesma coisa que podemos fazer com os mais jovens (e aqui relembro imeditamente das palavras do Papa Francisco, que afirmou que os dois lados estão à margem da sociedade de consumo!): garantir sua função social.
Para que eles tenham mais atividades e sintam-se efetivamente integrados à família e à comunidade, é preciso cuidar da saúde (se possível de forma preventiva) e para isso todos, inclusive nós, comunicadores, devemos ter informação adequada e buscar conhecimento aprofundado sobre o tema. Seguindo esta linha, pouco antes do meu parto, participei de uma das etapas do ‘Programa de Jornalismo Support em Saúde do Idoso’, uma série de workshops com profissionais e especialistas para aprimorarmos nossa capacidade de comunicar as novidades científicas nesta área.
O tema deste primeiro encontro foi “Memória – Mitos e a Realidade atual no Brasil”. De acordo com as informações veiculadas na ocasião, a população de idosos cresce no país e questões relacionadas ao envelhecimento precisam ser debatidas. Surpreendi-me na oportunidade em que estive com colegas jornalistas do Brasil todo e notei quão dispares são nossas fontes e nosso modelo de pesquisa para nos aprofundarmos sobre as pautas de saúde. Num tema, felizmente, concordamos: cabe ao jornalista se informar sobre o assunto em fontes confiáveis, de forma a transmitir informações corretas ao seu público. O fato é que, por não sermos especialistas, muitas vezes temos dificuldade em compreender termos médicos.
O evento foi orientado pela neuropsicóloga Gislaine Gil, formada pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, a doutora é idealizadora e coordenadora do Programa de Estímulo à Atenção e à Memória do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e autora do livro Memória: tudo que você gostaria de saber, mas esqueceu de perguntar (Editora Campus-Elsevier).
No evento a especialista criou práticas interessantes com o grupo para demonstrar de modo prático como funcionam os diferentes tipos de memória:
- Dependente do tempo: envolve a memória de curto prazo e a de longo prazo. Na primeira, a informação fica armazenada por um período para que ela ainda possa ser manipulada. Já a de longo prazo é ilimitada pode ser dividida em memória não-declarativa e declarativa. A memória não-declarativa está envolvida em atividades diárias e quase automáticas, como dirigir um carro, enquanto a declarativa requer gasto de energia, para a busca da informação no cérebro e reflexão a partir dela. A memória declarativa se subdivide em episódica e semântica, que ajudam a identificar a doença de Alzheimer.
- Memória de todo dia: define as tarefas realizadas durante o dia e as programas para os próximos dias. A memória de todo dia é dividida em evento e tempo. Um bom exemplo do primeiro caso é se alguém lhe pede para dar um recado a uma determinada pessoa, quando você a encontra (evento), imediatamente dá o recado. Já o segundo caso pode ser exemplificado da seguinte forma: você tem de pagar uma conta num momento específico do dia, portanto, o tempo (momento específico) deverá disparar uma recordação de algo a fazer.
Para melhorar o desempenho destas duas memórias, tente trabalhar com as duas situações simultaneamente. E ajude os idosos da sua família a fazerem o exercício também!
P.S. Esquecimentos podem atrapalhar muito o dia-a-dia de qualquer pessoa, principalmente se acontecerem no ambiente de trabalho. Falhas na memória são relatadas, geralmente, a partir dos 60 anos, e é importante ressaltar que a queixa não é sinônimo da doença de Alzheimer, mas é um lapso que pode ser melhorado com atenção, exercícios e estímulos para que a cabeça fique jovem e acompanhe a longevidade física que conquistamos com os avanços científicos.
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