Nesta semana, a cidade do Rio de Janeiro tem sido palco para os diversos debates entre líderes mundiais e chefes de estado sobre desenvolvimento sustentável. A chamada Rio+20, confererência organizada pelo ONU (Organização das Nações Unidas), terá todo o seu conteúdo rascunhado em um documento oficial, cuja edição final está perto de acontecer.
Tal documento, porém, causou muita divergência e recebeu duras críticas de representantes de países e organizações religiosas. O que mais tenho lido em notícias é de que o conteúdo é superficial e ambicioso. Poderia até concordar com tais opiniões se em algum lugar fosse disponibilizado o documento para leitura. Vou além: é inacreditável que no site oficial da Rio+20 (muito menos nesse outro site, a princípio dedicado para atualização de informações) não tenha um link direto, pelo menos de fácil localização, para acessar o texto, ainda que ele não tenha sido aprovado.
Finalmente, com a ajuda de amigos em redes sociais, consegui o texto do documento devidamente traduzido para o português. Caso você queira ler na íntegra, o conteúdo está dividido: parte 1, parte 2 e parte 3. Não li tudo, mas só o primeiro parágrafo vai contra o princípio básico do qual abordei acima:
1. Nós, os Chefes de Estado e de Governo e representantes de alto nível, reunidos no Rio de Janeiro, Brasil, 20-22 junho de 2012, com plena participação da sociedade civil, renovamos o nosso compromisso com o desenvolvimento sustentável, e para assegurar a promoção de economicamente , o futuro social e ambientalmente sustentável para o nosso planeta e para as gerações presentes e futuras.
O trecho “com plena participação da sociedade civil”, apesar de sua descrição clara, em nenhum momento está sendo cumprida. Onde está a participação ativa da sociedade? Até onde eu saiba, apenas na Cúpula dos Povos, uma conferência paralela à Rio+20. Posso parecer um tanto radical querer a inclusão literal da população, porém o que presencio são apenas decisões vindas do poder político, sem a interferência direta dos cidadãos.
Mas esse nem é o ponto em que coloco como reflexão. Minha questão é saber o que é verdadeiramente importante no documento da Rio+20, não só para os governantes mas para a referida sociedade civil. Do pouco que li, senti um incômodo enorme com a repetição de muitos verbos até então destoados completamente de ação: “reconhecemos”, “reafirmamos nosso compromisso”, “sublinhamos a necessidade”, “tomamos nota” e assim por diante.
Se a conferência foi criada e realizada com a finalidade de estabelecer metas para um futuro mais sustentável para todas as nações, imaginei também que haveria prazos, métricas e delegação de responsabilidades atreladas a essas metas. Não é preciso ter uma visão empresarial para saber que qualquer planejamento é constituído de tais determinantes para que os objetivos sejam alcançados. Com isso, passo a concordar com a avalanche de críticas: é um documento cujo texto é sem profundidade, vago e, de certo modo, ambicioso. É uma lista enorme de compromissos assumidos sem que tenha duas palavras essenciais para que eles sejam cumpridos: como e quando.
José Luiz Brandão (@zeoffline) é autor do blog Zé Offline, sobre música, cinema e livros, e editor no MudaRock, também sobre música e sustentabilidade.
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