Quando eu era criança, filha de advogada atuante no fórum, eu e meus irmãos resolvíamos toda e qualquer pendenga, das irrisórias às importantes, na argumentação. Apesar de considerar que a gente tinha as causas ganhas ou não (ganhava ou perdia) por cansar a mãe que atuava como juíza das situações cotidianas, hoje vejo que o fato é que nos habituamos a levar tudo “a ferro e fogo”.
Meus filhos são tão diferentes disso… Aqui em casa tratamos as diferenças do cotidiano como passageiras e, por isso mesmo, menores diante do que temos de valoroso de fato, nosso tempo juntos. Somos todos sempre tão ocupados – cada um com seus interesses, mesmo que seja montar legos, costurar, tocar flauta ou violão, assistir futebol ou À prova de tudo – que, quando surge um impasse, percebo um esforço coletivo para resolver com pouca briga ou deixar a poeira baixar.
Este tempo, fruto da paciência ou resiliência, é um dos benefícios que meu marido trouxe à minha vida quando nos casamos. Não que eu tenha deixado de ser mulher e perdido totalmente a mania de “discutir a relação” ou de achar que “me falta atenção”, mas eu aprendi a não levar tudo tão a sério e a dar tempo ao tempo. Como dizem, nada como um dia após o outro e uma noite bem dormida entre eles. Deixando o tempo fazer seu milagre de assentar a poeira e dar cor verdadeira aos sentimentos e valores nós podemos ver o que importa e reagir usando a cabeça e o coração, não só os ânimos exaltados e as expectativas frustradas.
E não, nem vivi uma crise por aqui recentemente. Estive refletindo sobre minhas reações ao telefone com meu pai, ao e-mail com minha irmã e no carro conversando com meus filhos e notei como eu já mudei nestes 15 anos de casamento e como tem sido bom ser capaz de me rever graças à convivência com outras pessoas. Sim, “é preciso dois para dançar tango” e também são dois para brigar… E, afinal, todos precisamos de bons relacionamentos para viver de uma forma construtiva e saudável.
Nem falo de casamento, de uma relação conjugal ou da necessidade de figuras X ou Y em sua vida. Refiro-me ao fato de que todos nós podemos nos beneficiar de relações de intimidade positiva nas quais estejamos vulneráveis para aprender a sermos melhores e ao mesmo tempo emocionalmente fortalecidos a ponto de sabermos o que em nós é bom e merece permanecer vivo.
Querido leitor (ou leitora), eu espero sinceramente que você tenha relações assim e que esteja sendo uma experiência construtiva e positiva para todos.
🙂
[update] E já que o @avidaquer está tão musical neste novembro, achei os vídeos de duas músicas que têm exatamente o mesmo título do texto: it takes two to tango: [/update]Latest posts by Sam @samegui Shiraishi (see all)
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